E se fizéssemos mais silêncio?

Thabata Telles
2 min readApr 18, 2024

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Sempre tive uma relação muito visceral com as palavras. Comecei a ler cedo e logo encontrei na escrita uma forma de tentar me estruturar em meio ao caos dos pensamentos e sentimentos. Enfrento basicamente qualquer tipo de texto: legendas para redes sociais, artigos científicos, colunas para jornais, poesias, crônicas, contos e até já pensei em escrever romance. Mas, depois de muitos anos, percebi que preciso de certo estado de espírito para escrever.

Acordar com calma, tomar café, sentar em frente a uma janela e escrever. Em jejum, sem olhar telas, sem falar com ninguém e às vezes com músicas que até já sei a batida que ajuda a entrar no meu estado ideal. No entanto, mais importante do que todo esse ritual, preciso de certo silêncio. É importante que eu esteja calada, quieta, tranquila. O que atualmente tem sido um desafio.

Às vezes também gosto de escrever em algum café, olhando pra rua, depois de caminhar. Gosto de me perceber a ver e sentir as coisas ao meu redor, como seu eu me precisasse me conectar com minhas sensações e percepções mais básicas pra poder começar e pensar e escrever. Mas isso requer tempo.

Eu nunca sei de quanto tempo vou precisar pra escrever um texto. A digitação é até rápida, menos de uma hora se for um texto mais simples e curto. Entretanto dou muita importância à elaboração das coisas. Uma ideia às vezes demorar pra se formar e ganhar um corpo mais sólido. E isso não vale apenas para a escrita de um texto, mas para uma série de coisas na vida.

É como se vivêssemos em constantes projeções daquilo que queremos e nos perdemos em meio a pensamentos e expectativas. Imaginamos que estamos lá na frente sem perceber que nossos pés permanecem fincados no chão. É preciso abraçar todo esse caos como parte daquilo que somos e confiar no nosso corpo como uma importante ancoragem. O silêncio é possivelmente aquilo que mais potencializa nossa capacidade de sentir e perceber. Nem sempre temos algo a dizer — e que bom! Assim sentimos, percebemos e seguimos.

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Thabata Telles

Professor & Psychologist. Researcher since I was a child, but got a PhD. Traveler because life said so. Fighter for no reason. Mixing languages & subjects.